sexta-feira, 1 de outubro de 2010

O papel do Brasil na exploração espacialTema:Expedições


Autor: Chris Bueno

Marcos Pontes
Foto: Divulgação/ marcospontes.net


Astronauta Marcos Pontes
Foto: Divulgação


360 Graus - O que representa a participação do Brasil na exploração espacial?
Marcos Pontes - Esta experiência representa o reconhecimento do nosso país, nossa gente, nosso patriotismo. Uma motivação pública. Nossa bandeira pela primeira vez orbitando o nosso planeta. A participação brasileira na EEI abre portas para a área de tecnologia espacial, sem colocar dinheiro algum fora do Brasil, isto é, investindo apenas nas indústrias nacionais para que se qualifiquem internacionalmente, gerem mais empregos e desenvolvam. A ciência e a educação também participam desse processo, se beneficiando do programa da Estação Espacial Internacional (EEI) para resolver problemas específicos do Brasil em experimentos a bordo da EEI e através de intercâmbio de cientistas que já iniciamos este ano.

A participação brasileira na EEI é o projeto do Programa Espacial de maior retorno imediato ao País em 4 áreas: Indústria, Ciência, Educação e Política. O VLS, as bases de lançamento e os satélites são de enorme importância estratégica, enquanto a participação na EEI integra o conjunto projetando internacionalmente a indústria e a ciência nacional, gerando exportações, empregos, oportunidades de pesquisa, motivação, civismo e vantagens políticas.

360 Graus - O Brasil participa da Estação Espacial Internacional enviando peças especiais. Como surgiu essa parceria?
O Brasil foi convidado a participar da Estação Espacial Internacional. A EEI é um projeto científico desenvolvido por 16 países: Rússia, Japão, Canadá, França, Alemanha, Itália, Suíça, Inglaterra, Suécia, Dinamarca, Bélgica, Noruega, Holanda, Espanha, Brasil e os Estados Unidos. A espaçonave é composta de módulos laboratórios científicos e operacionais para experimentos em inúmeras e importantes áreas de pesquisa.

Marcos Pontes
Foto: Divulgação/ marcospontes.net
O Brasil participa da seguinte maneira: o governo brasileiro contrata junto à indústria brasileira a construção de partes da espaçonave. A indústria recebe 100% dos recursos, constrói essas partes, qualifica-se e fica homologada para exportação para o mercado espacial simultaneamente para 15 países. Geram inúmeros novos empregos no Brasil. As partes são exportadas para a EEI.

Uma vez no mercado, as indústrias podem fazer contratos paralelos com outras indústria e países como a Mitsubishi no Japão e desenvolver-se ainda mais. Empresas terceirizadas são criadas. Mais negócios, mais empregos. Universidades participam do projeto e desenvolvimento das partes mais complexas. Cientistas e estudantes participam de programas de cooperação e intercâmbio entre o Brasil e os outros 15 países participantes (item novo no acordo de participação do Brasil no programa). Trazem conhecimento e desenvolvimento tecnológico na melhor forma: na capacitação pessoal (muito mais eficiente que o tradicional ganho tecnológico por análise de hardware).

Geram-se oportunidades de emprego para brasileiros na pesquisa no mundo, novas oportunidades de pesquisa e colocação para alunos de pós-graduação e jovens profissionais (não adianta termos inúmeros doutores, eles precisam ter onde trabalhar!). Levamos ciência e tecnologia para dentro das escola com programas como o AEB-escola. Motivamos os jovens alunos a se dedicarem ao estudo na área científica. Preparamos o futuro. Realizamos experimentos no espaço no melhor laboratório de microgravidade já existente (a EEI). Sabe-se que realizar experimento no espaço tem um custo altíssimo se não formos de alguma forma parceiros em algum programa. Nossa participação na EEI nos garante realizar nossos experimentos segundo a NOSSA necessidade a custo praticamente nulo (temos o custo do desenvolvimento do experimento - o transporte está garantido pelo acordo!). Todos os países participam da mesma forma, diferenciando apenas na quantidade de peças fabricadas x quantidade de horas de utilização da Estação Espacial Internacional.

Astronauta Marcos Pontes
Foto: Divulgação
360 Graus - Quais as vantagens para o Brasil em participar da Estação Espacial Internacional? E como está o papel do país na exploração espacial?
Marcos Pontes - Brasil tem todas as vantagens práticas. O primeiro ponto importante a ser destacado é o investimento integral do orçamento do projeto dentro do próprio Brasil. Essa é uma característica exclusiva dessa cooperação internacional no cenário dos projetos do programa espacial. Além dessa vantagem, essa participação também qualifica nossa indústria nacional simultaneamente para os 15 países que compõem a maior fatia do mercado internacional de exportação de alta tecnologia espacial. Também característica exclusiva do projeto. Significa empregos, ciência a bordo da EEI, projeção de produtos "made in Brazil", intercâmbio de cientistas... e é claro, oportunidade de colocar a bandeira do Brasil, em mãos, em órbita do Planeta.

Atualmente, o PPA, contempla 10% do orçamento total necessário para uma participação completa brasileira. Embora não seja o ideal, esses recursos são suficientes para a fabricação do primeiro lote de componentes nacionais a serem exportados pelas nossas indústrias. Depois de 07 anos de participação sem a entrega de nenhum componente “made in Brazil” para o complexo científico, o evento da construção do primeiro lote será extremamente importante para a imagem do País perante o mercado internacional de alta tecnologia espacial. O orçamento e a necessidade da fabricação existem, as indústrias nacionais tem condições plenas para o serviço. A administração atual da AEB reconhecendo a importância do projeto para o Programa Espacial do País têm trabalhado no sentido de viabiliza-lo por completo. Para tanto é extremamente importante e necessário a participação e apoio públicos. Em termos dos impactos da participação brasileira no projeto da EEI, ao menos quatro áreas se beneficiarão positivamente ao participar do projeto.

Indústria:
Investimento direto na indústria nacional. A EEI é o único projeto do programa espacial brasileiro em que a participação da indústria nacional é de 100%. Isto é conseguido pelo seqüenciamento técnico correto das partes construídas no Brasil, iniciando pelas mais simples, desenvolvendo, e seguindo então para as mais complexas. Geração de Empregos. O investimento na indústria vai reverter em desenvolvimento indústria e novos empregos no país, de enorme importância social e política no momento. Capacitação Industrial. As indústrias nacionais participantes serão homologadas automaticamente e passam a ser qualificadas como fornecedores de produtos espaciais junto a todos os grandes mercados internacionais, pois todos são participantes da EEI. Exportação de alta tecnologia. O Brasil precisa ser conhecido no exterior como exportador de alta tecnologia, não só pela EMBRAER, mas por todas as outras empresas.

Ciência:
A EEI – é o único laboratório existente e tripulado no espaço. Ela fornece microgravidade de altíssima qualidade (sem acelerações espúrias) por até 30 dias de cada vez. Os equipamentos científicos podem ser adaptados conforme as necessidades e terem manutenção constante pela tripulação. Isto permite a execução de experimentos monitorados em muitas áreas do conhecimento. Todos estes fatores em conjunto fazem da EEI um recurso científico sem comparação com nenhum outro meio de acesso à microgravidade como satélites, foguetes sub-orbitais, cápsulas não tripuladas e até mesmo veículos tripulados como o ônibus espacial.

Cooperação científica. A participação na EEI abre portas para intercâmbio de pesquisadores com todas as 15 outras nações participantes.

Desenvolvimento de pesquisas específicas para nossos problemas. A condução de experimentos no espaço é extremamente cara. Ao participar na EEI, basta à coordenação da AEB e da Academia Brasileira de Ciências para que esses experimentos sejam possíveis a baixo custo.

Educação:
Presença da ciência e tecnologia nas salas de aula. A participação brasileira na EEI engloba projetos como programas de TV e palestras, onde levamos a ciência e a tecnologia aos estudantes, dando aos professores ferramentas práticas para ensinar matérias básicas mostrando sua aplicação futura.

Motivação para os jovens. A existência de um astronauta é característica exclusiva da participação brasileira na EEI entre os outros projetos do programa espacial. O efeito positivo da figura do astronauta e do vôo espacial junto aos jovens é de importância fundamental.

Abertura de campo de formação e trabalho. A participação na EEI desenvolve empresas no Brasil, abrindo novas perspectivas de trabalho, além de abrir campo também em 15 outros países para formação de mestres e doutores.

Política e Civismo:
Relações internacionais. A continuidade do programa gera para o Brasil, uma imagem internacional de credibilidade e seriedade.

Orgulho Nacional. O vôo do astronauta brasileiro que, com a continuidade normal do programa no Brasil, deve ocorrer nos próximos anos, vai representar um fato histórico que aumentará substancialmente a auto-estima de todo brasileiro.

Credibilidade popular. Um fato histórico de tamanho impacto positivo trará credibilidade e suporte do povo aos realizadores políticos de um evento de tamanha envergadura.

Nesta reportagem:
» Entrevista com Marcos Pontes, o astronauta brasileiro
» O papel do Brasil na exploração espacial




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